Reciclagem naval especializada: salva vidas e preserva o ecossistema marinho

 A reciclagem naval atual carece de maior especialização, pois ainda continua precária em certas regiões. Isso coloca em risco o ambiente marinho e a vida das pessoas envolvidas. Entenda porque esse setor deve ser tratado com mais responsabilidade.      

O transporte marítimo é um dos setores vitais do comércio internacional, sendo responsável pela movimentação de 80% de toda a carga mundial.

Anualmente, estima-se que 800 embarcações são desmanteladas por causa da sua deterioração natural pelo tempo de navegação. Umas, passam pelo desmonte seguindo as regras rígidas da reciclagem naval especializada.

Por outro lado, a maioria das estruturas navais ainda segue processos rudimentares de reciclagem que não só colocam em risco a vida dos trabalhadores envolvidos, mas também do meio ambiente marinho.

As embarcações e as estruturas navais possuem um tempo de vida útil menor do que o habitual, pois a maresia deteriora peças e cascos com maior rapidez.

O velho problema persiste também no meio naval: visando reduzir custos, os armadores adotam uma metodologia ultrapassada e perigosa.

Por isso, já existem campanhas internacionais de ambientalistas e sindicatos de estivadores e outros setores envolvidos na reciclagem naval para que medidas urgentes sejam tomadas para evitar o mal maior.

A União Europeia, à frente de outras entidades mundiais da navegação, aprovou, recentemente, uma regulamentação determinando que navios de bandeira europeia só podem ser desmantelados e reciclados por estaleiros especializados, cumprindo as normas ambientais e de proteção ao trabalhador.

A maior preocupação, além da vida dos trabalhadores, é controlar, com maior rigor o derramamento de toneladas de óleo e resíduos tóxicos de navios inservíveis ou encalhados.

A reciclagem naval especializada adota um protocolo rigoroso que deve ser seguido pela empresa naval.

Plano de Reciclagem Naval Especializada

1 - Inventário

Relatório completo do material da embarcação que será reciclado, vendido ou descartado. O documento será parâmetro para determinar a quantidade de material perigoso à saúde dos trabalhadores e à fauna e flora marinha, como no caso do amianto e de substâncias que destroem a camada de ozônio.

2 - Inspeções de Materiais Perigosos 

Empregam-se as etapas estabelecidas no documento conhecido como IHM (Inspection Hazardous Materials), que seriam as seguintes:

  • Coleta de informações sobre o material de acordo com seu grau de periculosidade, insalubridade e outros dados importantes para prevenção.
  • Avaliação das informações da embarcação - Verificação de Amostragem Visual (Visual Sampling and Check Planning) para posterior validação pelos técnicos especializados..
  • Análise das amostras junto com a interpretação da análise resultados.

O IHM, em síntese, fornece aos armadores, tripulações, engenheiros, agentes de gerenciamento e trabalhadores, relatório detalhado de todos os materiais perigosos a bordo do navio.

3 - Planejamento da Reciclagem

O plano conterá: cronograma e diretrizes para gestão dos resíduos tóxicos e poluentes, pois o processo de desmonte de uma estrutura naval (plataforma de exploração e produção de óleo e gás ou embarcação naval), exige técnicas especiais. 

Uma vez que o Plano de Reciclagem Naval Especializada ainda não é uma prática comum em todos os países, a situação continua perigosa em alguns países do mundo. 

A reciclagem naval de embarcações de bandeiras asiáticas, por exemplo, é uma das que mais desrespeitam regras mínimas de segurança e de proteção ambiental.

Grande parte dos setores de reciclagem naval asiáticos continuam empregando processos perigosos, como o chamado Beaching Method, que adota o desmonte em plena em plena praia, quando poderia ser realizado em dick seco.

    De acordo com a representante da ONG ShipBreaking Plataform, Sara Costa, "mais de 70% dos navios que navegam nos oceanos do mundo, são reciclados em condições precárias, como acontece nas praias de Bangladesh, na Índia. Esse procedimento causa danos irreversíveis aos ecossistemas locais e ainda arriscam a vida dos trabalhadores encarregados do serviço, até mesmo quando o desmonte é feito em estaleiros. Existem casos que a situação é análoga à escravidão!Além do mais, muitos morrem ou ficam mutilados."

    O emprego rigoroso de regras da reciclagem naval especializada permitirá a recuperação de até 95% do material reciclado, além de se tornar uma profícua alternativa de empreendimento que contemplará a economia circular e, obviamente, será fundamental para a preservação de vidas humanas e de estruturas marinhas. 

    O processo de preservação das estruturas marinhas

    O aproveitamento de estruturas marinhas (recifes de corais incrustados nas estruturas navais), contribui para a criação de uma nova colônia de organismos aquáticos.

    O material coletado é reinserido em pontos estratégicos para incentivar o mergulho esportivo e o turismo subaquático.

    Pode ocorrer também o aproveitamento  de toda a estrutura da embarcação que tenha valor histórico. Esta poderá ser utilizada para fins de exibição, tanto em terra, como flutuando, tornando-se um museu.

    O mercado de reciclagem naval é um mercado em expansão

    O mercado de reciclagem naval especializada é atraente por atrai novos empregos em vários segmentos da indústria naval:

    • inspeção de embarcações
    • limpeza de casco
    • reboque até o estaleiro
    • logística 
    • coletas off-shore em navios ancorados (fundeados), utilizando caminhões, mangueiras e conjuntos de moto-bombas
    • empresas especializadas em equipamentos de absorção e barreiras de contenção (evita poluição ambiental nas costas ou em alto mar). 

    A reciclagem naval especializada é, em suma, indispensável para a redução dos riscos à saúde da tripulação, dos trabalhadores e do meio ambiente de uma forma geral, trazendo, igualmente, benefícios econômicos e sociais para as comunidades costeiras.