O mundo mágico das plantas medicinais está sendo ameaçado e a natureza reclama!

Tempo estimado de leitura: 5 a 6 minutos

Plantas que curam são dádivas da natureza, mas o homem continua lhe faltando com o respeito. Este, em busca do lucro fácil tornou-se predador, da mesma forma que faz com os animais. O risco de extinção de plantas raras é, igualmente, alto. Conheça mais sobre as plantas medicinais e como salvá-las do comércio ilegal.

Os efeitos curativos das plantas são conhecidos desde tempos remotos, a partir da pré-história da humanidade.

Não confunda plantas medicinais com fitoterápicos

Uma mania recorrente é a confusão que as pessoas fazem com relação aos termos, plantas medicinais e fitoterápicos, como se fossem sinônimos. Os fitoterápicos são remédios rigorosamente avaliados antes de irem para o mercado, ao passo que as plantas medicinais são consumidas “in natura”, na forma de chás, compressas, vapores, etc.

Os animais detectam e consomem plantas curativas!

Existe um estudo da UNESP que revelou uma teoria bastante curiosa: certos animais buscam uma árvore da Mata Atlântica (Cabreúva) para se automedicar. A planta tem propriedades benéficas, que os ajudam em várias doenças. O artigo foi publicado na revista científica BioTropica e seus autores batizaram esse comportamento com o termo zoofarmacognosia que significa automedicação em animais. Por enquanto, trata-se de uma teoria passível de mais pesquisas para que seja comprovada.

Um pouco de história das plantas que curam

As plantas com efeitos curativos começaram a ser utilizadas para fins medicinais já na pré-história. Essa foi a conclusão após um Neandertal ser desenterrado. Foram achados ao lado do corpo, oito espécies de plantas que, após testadas, eram medicinais.   

Em 3500 AC, os egípcios registraram seus conhecimentos sobre doenças e curas nas paredes dos templos. Depois deixaram registradas mais de 700 fórmulas medicinais com plantas num papiro conhecido como “Ebers”.

Em 2700 AC, os chineses começaram a utilizar ervas após a verificação científica de seus efeitos curativos, deixando de lado as crenças. 

Hipócrates classificou mais de 400 ervas, tendo em vista suas características e as dividiu de acordo com a sua utilização: quentes ou frias, úmidas ou secas. Por sua vez, Aristóteles compilou uma lista de plantas que seu melhor aluno, Theophrastus, classificou aquelas com poderes curativos.

Os primeiros textos ayurvédicos sobre medicina da Índia datam de 2.500 A.C. Nos escritos, é revelado que a maioria das doenças é de fundo emocional. 

    As plantas medicinais nos dias atuais

    Mesmo com a ampla difusão dos remédios naturais, ainda prevalecem os medicamentos fabricados. Mas a migração para as plantas medicinais continua em franca ascensão.

    Ainda assim, no início do século 21, 11% das 252 drogas consideradas "básicas e essenciais" pela Organização Mundial da Saúde são, "exclusivamente de origem vegetal floral". Por exemplo, drogas como a codeína, quinina e morfina, contêm ingredientes derivados de plantas.

    Embora essas drogas extraídas de plantas sejam importantes na cura de diversas doenças, a produção de remédios naturais vem ganhando força, ultimamente.

    Com relação aos efeitos colaterais dos remédios produzidos pelas plantas medicinais, por uma questão de segurança, deve-se pesquisar bem sobre a origem do que irá consumir. Não existe milagre, mas bom senso sempre. Por exemplo, o uso de ervas deve ser evitado em bebês, crianças e em grávidas e muito menos se estiver amamentando. 

    Nesse sentido, Dra. Debra Rose Wilson, pesquisadora americana e professora na Austin Peay State University, aconselha que,“O mais prudente é tomar decisões sobre as ervas que vai consumir juntamente com um profissional. Essa é uma boa forma de se resguardar e não correr riscos desnecessários. Uma dosagem acima do que foi prescrito poderá resultar em efeitos contrários imprevisíveis.". 

    Além dos necessários cuidados que o usuário deve ter, outra preocupação aflige não somente esses consumidores, mas aos profissionais sérios que vivem do comércio de plantas medicinais, comunidades, povos indígenas e, claro, a natureza: a biopirataria! 

    Surge uma nova modalidade de crime contra o meio ambiente: biopirataria.

    Biopirataria é o nome dado à prática de empresas privadas que comercializam ilegalmente plantas raras e animais. 

    Falsas patentes são dadas aos remédios para que sejam chancelados como "legais". Os efeitos negativos dessa prática são vários, como o aumento da insegurança social e econômica e a perda acelerada de espécies. Se calculada em números absolutos, já beira cerca de 15.000 espécies de plantas medicinais em todo o planeta que correm risco de extinção.

    O mercado mundial do tráfico de espécies da fauna e da flora movimenta US$ 258 bilhões/ano.

    Como se não bastasse, essa iminente perda de espécies pode levar consigo importantes curas para as doenças atuais e até para as doenças potenciais (cuja cura pelos métodos tradicionais ainda não foi encontrada.).

    Segundo especialistas, perde-se pelo menos um medicamento importante a cada dois anos. 

    Fiscalização que ainda deixa a desejar

    A fragilidade nas fiscalizações pode ter vários motivos, como:

    • falta de pessoal capacitado.

    • leis fáceis de serem burladas.

    • corrupção no meio.

    • tráfico de espécies raras (funciona similarmente ao tráfico de drogas, desde o pequeno traficante aos "grandes patrões".).

    • comércio ilegal internacional

    • falsificação de patentes que legaliza produtos contrabandeados. 

    A situação poderá ser amenizada, caso sejam tomadas medidas drásticas, como:

    1. Educação ambiental, principalmente para as comunidades corrompidas pelo braço da atividade ilícita do tráfico.
    2. Catalogação de todas as espécies de plantas medicinais, sobretudo aquelas ameaçadas de extinção.
    3. Implementação de políticas públicas efetivas para o uso legal da terra, a partir de requisitos de permissão e limitações de quantidade máxima para a colheita.
    4. Implementação de práticas de manejo responsável e sustentável da comercialização de plantas medicinais.
    5. Vigilância 24/7 da guarda florestal e monitoramento via satélite.

    Brasil: mina de ouro de remédios naturais

    As indústrias farmacêuticas, principalmente as estrangeiras, sabem que o Brasil possui uma biodiversidade incomparável em termos de recursos naturais.

    Um fato inusitado que ocorre no país: as plantas colhidas nas florestas brasileiras (alvo constante da exploração internacional) são levadas ilegalmente para outros países e depois importadas para a produção de produtos naturais, como cosméticos e remédios para sua industrialização. Por isso, são caros.

    Pesquise fundo antes de adquirir qualquer remédio a base de plantas medicinais. Verifique sua origem e o processo de fabricação. Essa atenção poderá fazer a diferença para os responsáveis da produção e seu controle e, claro, para o meio ambiente e sua sustentabilidade. A Natureza agradece!