A agricultura espacial será modelo para o aumento da produção de alimentos no planeta

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A agricultura espacial irá criar condições para o desenvolvimento do cultivo de plantas não só no espaço, como na Terra. Com novas tecnologias espaciais de plantio, a tendência é o aumento da produção de alimentos, impedindo que sua falta, prevista para o futuro, se torne realidade. Leia mais.

A agricultura espacial representa para o planeta muito mais do que se imagina.

A agricultura espacial tem dois pilares: 

  1. Encontrar alternativas para plantar fora da Terra e resolver o problema da alimentação dos astronautas em viagens interplanetárias de longa duração.

  2. Encontrar soluções tecnológicas práticas e menos dispendiosas para implementar também na agricultura da Terra, aumentando o fornecimento de alimento em larga escala.

O cultivo espacial deve reverberar nas camadas mais pobres da população. Seu sucesso é, pois, fundamental para a Terra, como explica a Dra. Mamta Patel Nagaraja, cientista adjunta do “Programa de Biologia Espacial”, do Departamento de Ciências Biológicas e Físicas (BPS) da NASA. "Entender como os micróbios do solo se comportam e funcionam na microgravidade, pois afetam os níveis de carbono e nutrientes, terá o potencial não só de melhorar a produção de alimentos no espaço como, aprimorar tecnologicamente o cultivo agrícola da Terra. Antes disso, muitos desafios devem ser vencidos ainda."

Os desafios da agricultura espacial

O cultivo de plantas no espaço apresenta 5 desafios a serem superados. São eles:

1 - Menos gravidade

Um dos obstáculos que pode comprometer o sucesso da agricultura espacial é o plantio na  “microgravidade”, quando o ambiente tem pouca ou nenhuma gravidade. A solução será desenvolver câmaras que permitem controlar o nível gravitacional que controla o crescimento das plantas, orientando a direção da raiz e do caule.

2 - Variação do enraizamento

A baixa ou falta de gravidade afeta o funcionamento do enraizamento das plantas e responsável pela distribuição de água e ar no solo. No espaço, solos granulosos podem causar a dispersão da água e solos finos impedem o fluxo de ar. Conseguindo o controle dessas alterações, será também importante para futura colonização de Marte ou outros planetas. 

3 - Iluminação artificial

A maioria das plantas que nascem na Terra tem acesso à luz solar, o que não acontece em ambientes limitados, como de uma espaçonave. Os pesquisadores tentam achar uma forma de “enganar” as plantas para que cresçam com menor taxa de calor, pois as lâmpadas que geram mais calor consomem mais energia. O ideal será ultilizar lâmpadas que produzem menos calor, gastam menos energia e são mais duráveis, pois não existe espaço para armazenar lâmpadas sobressalentes.

4 - Micro-organismos que podem ficar perigosos

As plantas cultivadas no espaço também necessitam de ar, umidade e condições ideais de solo para que tenham nutrientes em abundância. Porém, a microgravidade presente na espaçonave pode alterar o comportamento dos micro-organismos modificando seu código genético e as consequências são imprevisíveis. Para evitar risco até para a tripulação, a alternativa será reverter o mapa genético para a condição original.

5 - Espaço disponível limitado

O espaço interno da nave reservado para o cultivo de plantas é pequeno. A ideia é desenvolver uma estrutura eficiente, para, sobretudo, permitir às plantações liberdade para suas raízes. Máquinas de cultivo controladas pela IA já estão sendo desenvolvidas. São aparatos com capacidade de regular o nível da água, umidade, iluminação, circulação de ar e até o fornecimento de nutrientes. Ainda podem se integrar ao “sistema de suporte à vida” da nave, trocando, automaticamente, o dióxido de carbono pelo oxigênio.

É evidente que ao dominar as técnicas de cultivo aumentará o tempo de permanência no espaço e permitirá ao homem que faça viagens a longa distâncias, além de fornecer subsídios para as futuras colonizações em outros planetas.

Os impactos positivos da agricultura espacial já estão sendo reverberados na agricultrua da Terra, como você vai conferir, a seguir:

Bio-KES

Dispositivo que utiliza luz ultravioleta para converter etileno em dióxido de carbono para depois ser convertido em oxigênio. O etileno é responsável pelo apodrecimento precoce de determinadas plantas. O benefício, portanto, elimina esse agente nocivo e ajuda a prolongar a vida dos alimentos, aumentando tmepo de armazenamento. 

Regulando as paredes celulares das plantas

A robustez das paredes celulares da planta é responsável pelo seu crescimento e resistência. Cientistas espaciais descobriram como modificar geneticamente fortalecendo essas estruturas e aumentando seu tempo de vida. Na Terra, por exemplo, as plantas poderão resistir a situações climáticas que normalmente as destruiriam. 

“Agricultura em Ambiente Controlado”

Dentre os projetos que fazem parte dos programa de cultivo espacial da NASA, destaca-se o CEA (Controled Environment Agriculture) que permite a reutilização da água para manter as condições ideais de crescimento de culturas em estruturas reduzidas. Essa ideia possibilitou a construção da primeira fazenda vertical dos Estados Unidos para onde vão as primeiras sementes para serem plantadas no espaço.  

Monitoramento espacial com previsões mais precisas

Há milênios, os agricultores colocam sementes no solo na fé de que as chuvas viriam exatamente na “época de chuvas” (lembra da “Folhinha Mariana?), mas nem sempre as previsões eram certeiras. Com as incertezas climáticas atuais, as previsões ficaram impossíveis, mas o monitoramento via satélite melhorou essa situação e as perdas foram reduzidas.  

O Landsat é o satélite mais utilizado na coleta de dados de sensoriamento remoto de terras agrícolas. Suas tarefas, em resumo, são as seguintes:

  • Monitoramento do desenvolvimento de culturas agrícolas, mostrando eventuais dificuldades decorrentes de problemas específicos de cara região.

  • Cálculo da quantidade ideal para a irrigação com base na previsão de chuvas e umidade do solo. 

  • Mapeamento de regiões onde existe escassez de água, nas secas ou enchentes. Esse benefício permitirá a tomada de medidas antecipadas para transportar alimentos para regiões com previsão de quebra de safra, dando tempo aos agricultores para optar por uma cultura mais resistente à seca e ajustar os níveis da irrigação. 

O Harvest da NASA é o programa responsável pela divulgação dos dados via satélite. A certeza de que uma safra está bem monitorada é o caminho para o aumento da produção e segurança alimentar em todo o planeta. 

 

Conclusão

Não são poucos os benefícios que a agricultura espacial permitirá não só para o cultivo de plantas fora da Terra, como também para o planeta. Vencidos os desafios - que não são poucos - certamente, todos serão beneficiados e o futuro em termos de alimento não será tão incerto assim, como predizem os alarmistas.  

Em outras palavras, a exploração espacial servirá de modelo para impulsionar a agricultura terrestre a partir de seus avanços tecnológicos. Inovações que fornecerão ferramentas para possibilitar o aumento da produção de alimentos sem as ameaças do clima e e outras intempéries. A Terra agradece.

*Por Marco Aurélio Gomes Veado: PENSE MAIS VERDE